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Um breve resumo sobre como funciona a psicanálise:

 

      Um dos princípios dela é a associação livre, processo em que a pessoa é orientada a falar sobre aquilo que lhe vem à mente, sem nenhuma censura, com seu analista.

“Este, por sua vez, ajudará o analisado a interpretar as informações, de modo a identificar dificuldades emocionais, traumas, medos e inibições. O divã é muito usado nessa terapia, pois impede a troca de olhares — evitando, assim, uma busca por sinais de aprovação ou quaisquer outras reações no rosto do terapeuta.” (Benine, Diego. Psicanálise. Revista viva saúde. São Paulo. Editora escala, 2013).

 

      O tratamento é dividido em sessões e, dependendo de cada caso, podem ocorrer mais de uma vez por semana.  Em média cada sessão tem duração de 40 minutos e não há como prever quanto tempo levará para a conclusão do tratamento, visto que cada sujeito necessita de um tempo diferente para lidar e elaborar seus conflitos, não existindo soluções mágicas para resolver questões complexas. Trata-se de um investimento com repercussões para a vida toda, já que a análise possibilita um maior conhecimento sobre si e propicia que o sujeito possa criar maneiras de lidar com aquilo que o acomete. Assim, não se pode negar a eficiência da psicanálise e a melhoria da qualidade de vida para aqueles que decidem enfrentar um processo de análise. Nós mesmos, psicanalistas, passamos por esse percurso e compreendemos não só na teoria, como também na prática, os benefícios da psicanálise. 

 

O que é psicanálise?

 

Suas origens:

 

      Sigmund Freud foi um conhecido neurologista que se debruçou em casos em que a medicina não conseguia desvendar ou solucionar com os instrumentos que possuía.  Assim, inicialmente Freud começou a investigar pacientes que não enxergavam, não andavam,  que possuíam algum problema na fala ou que sentiam dores, sem que tais moléstias tivessem qualquer etiologia orgânica. Tais acometimentos eram um enigma para a medicina.

      Esses sintomas eram denominados de sintomas histéricos. Os estudos realizados por Breuer (outro renomado médico da época) e Freud, acerca da etiologia dos sintomas histéricos, os levaram a chegar a dois importantes resultados. Um deles é que foi verificado que os sintomas histéricos seriam substitutos de atos mentais, e teriam sentido e significado. O outro é que com a descoberta desse significado oculto ocorria a remoção dos sintomas do paciente. Tais descobertas se deram através da realização de observações de pacientes que eram colocados em estado de hipnose profunda, assim como foi tratada Anna O., a primeira paciente de Breuer.

      As investigações realizadas não se restringiram apenas à dimensão do sentido aportado pelo sintoma, se dirigindo também à questão do afeto. Conforme afirmavam os autores mencionados anteriormente, o aparecimento dos sintomas histéricos se dava “quando um processo mental com pesada carga emocional era de alguma maneira impedido de nivelar-se ao longo do caminho normal que conduz à consciência e ao movimento (isto é, era impedido de ser ‘ab-reagido‘);” (Freud, 1923/1996, Vol.XVIII, p. 254). E como conseqüência desse desvio do afeto, este era “estrangulado” e transbordava para a enervação somática, ou seja, convergia para o corpo. Breuer e Freud chamaram de Traumas Psíquicos as ocasiões em que surgiam ideias patogênicas que desencadeavam o processo relatado anteriormente. Tais traumas estariam relacionados a eventos ligados a um passado bem distante; sendo assim, pode-se dizer que os histéricos sofriam por reminiscências.

      Durante o trabalho realizado em parceria, Breuer e Freud observam que o desaparecimento dos sintomas histéricos ocorria quando o paciente conseguia expor em palavras suas lembranças ligadas ao fato que havia provocado o sintoma. Dessa forma, havia uma descarga do afeto que acompanhava o sintoma. É através dessas investigações dos pacientes histéricos que eles começam um trabalho terapêutico utilizando o método catártico, o qual funcionava da seguinte maneira:

 

 “Ele põe termo à força atuante da representação que não fora ab-reagida no primeiro momento, ao permitir que seu afeto estrangulado encontre uma saída através da fala; e submete essa representação à correção associativa ao introduzi-la na consciência normal (sob hipnose leve), ou eliminá-la por sugestão do médico, como se faz no sonambulismo acompanhado de amnésia.” (Freud, 1893-1895/1996, Vol. II, p. 271).

 

      Esta parceria, contudo, logo começou a apresentar suas primeiras rachaduras. A primeira divergência que apareceu entre Breuer e Freud foi em relação ao mecanismo psíquico da histeria. Breuer tentava explicar a divisão mental nos pacientes histéricos através da teoria dos “estados hipnóides”, em que se supunha que os produtos deste estado da consciência penetrariam na “consciência desperta” “como corpos estranhos não assimilados” (Freud, 1914/1996, Vol.XIV, p.21). Ou seja, para Breuer, a divisão mental nos pacientes histéricos poderia ser explicada por uma falta de comunicação entre diferentes estados mentais.

      Já Freud defendia uma teoria que não continha o cunho fisiológico observado na teoria dos “estados hipnóides” de Breuer. Segundo Freud, a divisão psíquica decorria de um processo de repulsão que foi nomeado por este mesmo autor de “defesa” e mais tarde de “recalque”. Dessa forma, a teoria da histeria de defesa de Freud passou a divergir da teoria dos estados hipnóides de Breuer.

      Após tal divergência teórica, Freud continua seus estudos sobre a histeria, aplicando a uma vasta quantidade de pacientes o método de tratamento de Breuer, que consistia na investigação e ab-reação dos sintomas histéricos através da hipnose. Com a utilização deste método, Freud se depara com algumas dificuldades e, ao investigá-las, é conduzido a alterar a técnica empregada, bem como a concepção que tinha dos fatos. Uma destas dificuldades foi em relação à verificação de que não eram todos os pacientes, que apresentavam sintomas histéricos, que podiam ser submetidos à hipnose. Além disso, observou-se que o desaparecimento dos sintomas dependia da relação paciente-médico. Caso essa relação viesse a ser perturbada, os sintomas retornavam. Como decorrência, Freud decidi abandonar o uso da hipnose; porém, se utiliza das impressões derivadas deste método para elaborar os meios de substituí-lo.

      Com o abandono da hipnose, Freud se defronta com a questão de como contorná-la e continuar alcançando as reminiscências patogênicas. Freud, então, se recorda de uma observação de Bernheim que consistia na idéia de que “(...) as coisas experimentadas em estado de sonambulismo eram (...) aparentemente esquecidas e podiam ser trazidas à lembrança (...), se o médico insistisse energicamente em que o paciente as conhecia.” (Freud, 1923/1996, vol. XVIII, p. 255). Seguindo esta indicação, Freud passou a insistir aos seus paciente, que agora não eram mais hipnotizados, que lhe fornecessem suas associações. Através dessa experiência, constatou que mesmo sem hipnose, lembranças que estavam ligadas a idéia patogênica retornavam.

      Outro aspecto verificado por Freud foi que a insistência que era promovida por ele despedia muito esforço de sua parte. Tal fato reafirma a concepção de que haveria uma resistência dos pacientes em rememorar o evento que lhes causava angústia (idéia elaborada na teoria da histeria de defesa). Freud, então, constrói a proposição de que precisava superar, nos pacientes, uma força psíquica “que se opunha a que as representações patogênicas se tornassem conscientes (fossem lembradas)” (Freud, 1893-1895/1996, vol.II, p. 282). Seria essa mesma força psíquica a responsável pela origem do sintoma histérico. A partir de tais achados, Freud se depara com a característica universal das representações patogênicas, que seria sua natureza aflitiva, a qual estaria despertando afetos de vergonha, autocensura e anseio de estar sendo prejudicado. Segundo Freud, essa força psíquica, ou:

 

“(...) uma aversão por parte do Eu, teria originariamente impelido a representação patogênica para fora da associação e agora se oporia a seu retorno à memória. O “não saber” do paciente histérico seria, de fato, um “não querer saber” — um não querer que poderia, em maior ou menor medida, ser consciente.” ( Freud, 1892-1895/1996, vol.II, p.284).

 

      Assim, o trabalho realizado pelo médico seria fazer com que o paciente conseguisse superar a resistência às associações. Cabe ressaltar que o sucesso de tais esforços se deriva, em grande parte, da relação médico-paciente. A insistência feita por um médico estranho não seria poderosa o suficiente para ultrapassar a resistência à associação.

A nova técnica empregada por Freud promoveu grandes transformações no panorama do tratamento, colocando o terapeuta em uma nova relação com o paciente e produzindo resultados incríveis. Devido a tais modificações que se sucederam com a utilização dessa nova técnica, incluindo a extensão de sua utilização a outras formas de distúrbios neuróticos, Freud resolve denominá-la de psicanálise, diferenciado-a do método catártico.

                     

Referências Bibliográficas:

 

  • Freud, Sigmund. “A Psicoterapia da Histeria”, in Obras Completas. Rio de janeiro, Imago Editora, (1893-1895), Vol. II, ESB.

 

 

  • ______. “Fragmentos de um caso de Histeria”, in Obras Completas. Rio de janeiro, Imago Editora, (1905 [1901]), Vol. VII, ESB.

 

  • ______. “Sobre a psicanálise”, in Obras Completas. Rio de janeiro, Imago Editora, (1913 [1911]) Vol. XII, ESB.

 

 

  • ______. “Sobre o Início Do Tratamento ”, in Obras Completas. Rio de janeiro, Imago Editora, (1913), Vol. XII, ESB.

 

 

  • ______. “Recordar, Repetir e Elaborar ”, in Obras Completas. Rio de janeiro, Imago Editora, (1914) Vol. XII, ESB.

 

  • ______. “A História do Movimento Psicanalítico”, in Obras Completas. Rio de janeiro, Imago Editora, (1914), Vol. XIV, ESB.

 

 

  • ______. “Observações Sobre o Amor Trasnferencial ”, in Obras Completas. Rio de janeiro, Imago Editora, (1915 [1914]), Vol. XII, ESB.

 

 

  • ______. “Conferências Introdutórias Sobre a Psicanálise ”, in Obras Completas. Rio de janeiro, Imago Editora, (1917 [1916-1917]), Vol. XVI, ESB.

 

  • Vasques, Julia. Transferência: O motor da clínica psicanalítica. Monografia (Graduação em psicologia) UFF, 2011.

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